O que pode correr mal num SOTA (XIV)

EA1_OU-013

Nem só de caminhadas e operações com rádio, se fazem SOTAs. Uma SOTAda implica uma preparação prévia e algum trabalho de pós-produção, entre outras tarefas mais ou menos óbvias. Este artigo não visa explicar como faço as minhas activações, pelo menos, com o título que tem. Para contar como preparo e executo as minhas activações, escreverei outro artigo, um dia…

Não, este artigo, como o título indica, revela mais uma “armadilha” que pode aparecer na linha de uma activação.

Por já me ter acontecido no passado e por saber que aconteceu com outros sotistas, resolvi deixar por escrito aqui, um pequeno guia de correcção de gafes no LOG da sotada, submetido no sítio sotadata.

O primeiro tipo de erro é comum e simples de cometer. Ocorre quando se está a inserir manualmente no LOG, um a um, os contactos realizados. Trata-se do erro tipográfico. Pode acontecer na Hora, no Indicativo de Chamada ou até na selecção de um dos ítens dos menus drop-down, Band ou Mode. A imagem abaixo, ilustra um desses erros. NOTA: Esta imagem e as seguintes, são apenas ilustrativas e não correspondem a alguma activação real.

Gafe 1

Para corrigir o erro no Callsign, terei de eliminar (Delete) a linha correspondente e voltar a inserir os dados relativos a este contacto. O sistema de gestão de LOGs inserirá a nova linha no local certo, uma vez que os contactos são ordenados cronologicamente, conforme ilustra a imagem abaixo.

Gafe 1 resolvida

A outra situação de erro, ocorre quando o activador se apercebe do erro já depois de ter submetido o LOG ao sistema de gestão (através da acção no botão Finish e posterior confirmação na tick-box “I Agree”). Esta percepção acontece normalmente quando um dos caçadores reclama do erro ou se o activador fizer uma verificação posterior. A imagem abaixo ilustra um situação de erro identificado na consulta do LOG relativo a uma activação.

Gafe 2

Esta situação pode ser resolvida de duas maneiras diferentes, dependendo do tamanho do LOG (número de contactos registados). A solução mais radical passa pela eliminação do LOG e criação de um novo; voltando a inserir todos os contactos, um a um.

A outra solução consiste nos seguintes passos (implica ter feito o login no sistema):

  1. Ir à pagina Activator Log e na linha corresponde à activação cujo LOG contém erro(s), clicar no botão “Download” e gravar no computador o ficheiro CSV oferecido pelo site. SOTA_4
  2. Editar este ficheiro com uma aplicação tipo OpenOffice Calc, Microsft Excel ou outro processador de folhas de cálculo (não esquecendo de gravar o ficheiro alterado no mesmo formato CSV).SOTA_5
  3. Na página Activator Log, apagar o LOG clicando na ligação “Delete”. SOTA_6Na página que aparece em seguida, confirmar o apagamento, clicando no botão “Delete”. SOTA_7
  4. Na página de entrada do sotadata, ir ao menu Submit Log e ecolher o ítem Import Activator TSV/CSV. SOTA_8
  5. Clicando no botão “Browse…”, seleccionar o ficheiro CSV que foi editado anteriormente (isto é, em que foram efectuadas as correcções de erro). Em seguida, clicar no botão “Upload File”. SOTA_9
  6. Se o LOG estiver correcto, clicar no botão “Submit Entry”. SOTA_10
  7. Confirmar a inserção do LOG no sistema para validação. SOTA_11
  8. O LOG já está inserido no sistema, os pontos foram contabilizados, o problema está resolvido. SOTA_12

O SOTA só termina quando o LOG está contabilizado no sistema de gestão de activações da sotadata. Até este ponto, com o caro adepto desta saga(*) deve ter reparado, muita coisa pode correr mal num SOTA…

73 de CT7AFR, Emmanuel.

(*) Se ainda não leu, leia os restantes episódios da série “O que pode correr mal num SOTA“.

O que pode correr mal num SOTA (XIII)

moi_CT_MN-016

Pois bem, a brincar a brincar, cheguei ao décimo terceiro episódio da série O que pode correr mal num SOTA. Por se tratar do episódio treze, este vai ser especial, vou usar psicologia inversa para não ter de mudar o título…

Quinta-feira 8 de Dezembro de 2016, dia feriado em Portugal. Com a meteorologia a prever céu quase limpo no Minho, ficando o “quase” para algumas nuvens cuja base não desceria abaixo dos 2000 metros, esta quinta-feira teria de ser dia de SOTA! E assim foi!

Com o colega e amigo CT1HIX (Gomes), tínhamos sonhado dias antes, riscar da lista os dois cumes da Serra da Cabreira: CT/MN-016 e CT/MN-003.

Contas feitas, atacaríamos o MN-016 em primeiro, estimando o início da activação para as 11:00 Zulu. O Gomes fez o especial favor de me apanhar em Viana para seguirmos viagem até à Serra da Cabreira. Os percursos estavam devidamente planeados no GPS, as estimas do início de cada activação foram anunciadas no sotawatch, da seguinte forma:

  • CT/MN-016 – 11:00 +/- 30 min.
  • CT/MN-003 – 15:00 +/- 30 min.

O primeiro trilho (para o MN-016) era composto por um misto de caminho em terra, corta-mato e estradão de gravilha (daqueles, típicos dos parques eólicos). Com um comprimento de perto de 3,5 quilómetros, estava previsto ser percorrido numa hora de marcha sempre ascendente. O segundo trilho, apesar de ter apenas um terço da distância a percorrer (cerca de 1 quilómetro), era apenas composto por corta-mato, num terreno íngreme e ainda por cima, em socalcos estilo escadas de gigante, para quebrar o ritmo de marcha…

track_CT_MN-016

Tudo começou a correr mal quando chegamos ao início do primeiro trilho, muito antes da hora prevista. Além disto, a subida foi mais fácil do que o esperado; mesmo assim com algumas breves paragens para recuperar algum fôlego enquanto escrutinávamos a paisagem. No cume, fomos acolhidos por uma matilha de cães de caça com ares esfomeados, porém, inofensivos (cão que ladra…). O local era desprovido de vegetação alta, pelo que o risco de ser confundido com algum javali, era reduzido, dependendo apenas da taxa de alcoolemia dos caçadores presentes.

Fomos até ao Vértice Geodésico (VG) existente no local (não aparece referenciado nas listagens da Rede Geodésica Nacional) e apreciadas as vistas, verificamos que o ponto mais alto do cume corresponde às coordenadas oficiais SOTA, sensivelmente a 244 metros a Norte do VG. Foi do local oficial que activei o cume na banda de 40 metros, enquanto o Gomes fazia o mesmo noutras bandas, ali perto.

O início da activação estava previsto para as 11:00, mais ou menos meia hora. No entanto, às 10:31 tinha feito o meu último QSO, num total de onze, entre espanhóis, ingleses, um português, um alemão e um italiano.

É um facto que, na minha pouca experiência sotista, os alertas deixados no sotawatch raramente vêem as horas a bater certo. Confesso que é um pouco por isto, pela falta de pontualidade inerente a este tipo de explorações, que gosto pouco de anunciar antecipadamente as minhas activações. Para a próxima, anuncio a hora prevista com uma tolerância de mais ou menos uma hora (ou mais).

Cerca de uma hora depois, já estávamos no carro a partir para o cume seguinte: CT/MN-003. Este cume dista do primeiro, cerca de 6,5 km em linha recta; o triplo, pelo caminho percorrido de carro.

Este trilho inicia-se num pequeno bosque, para que o carro ficasse à sombra, e representa uma distância de cerca de 1 quilómetro. Apesar da pouca distância, esta ia servir a terceira marcha do dia, sempre a subir e a subir bem, com um ganho total de elevação de 136 metros numa distância rectilínea de pouco mais de 600 metros.

trilho_CT_MN-003

Esta activação estava anunciada para as 15:00. Às 13:20 registava o meu último QSO, de uma série de 18 contactos em doze minutos, com estações espanholas, inglesas, alemãs, suíças e, pela primeira vez nos meus SOTA, sueca. Tudo, como sempre, nos 40 metros.

Regressados ao carro cerca das 14:30, estávamos com um brilho especial nos olhos ao vislumbrar no horizonte, a possibilidade de activar um terceiro cume neste dia: CT/MN-014 (Cerdeira). Instalou-se então a confusão com os GPSs. O tablet (Android) com Navigator, usado para navegar até aqui, não sabia onde ficava o cume desejado (não estava previsto, não tinha sido inserido nos POI). A cobertura GSM era inviável para espreitar a olho, o caminho no Google-Earth. O Etrex tinha os cumes todos para SOTA, mas não era o melhor para navegar de carro por estrada… Recorreu-se então a uma mistura de todas estas ferramentas para convergir visualmente para o cume, até o Gomes (que já tinha activado este cume) ter um flash-back e recordar o caminho a partir de dado momento.

O Sol estava cada vez mais baixo e tínhamos perdido algum tempo precioso na viagem para este cume. Optou-se por chegar tão perto quanto tolerável do cume, de carro. Estacionamos a pouco mais de 650 metros do Vértice Geodésico CERDEIRA, junto à junção de um “caminho de cabras” com o estradão de gravilha.

trilho_CT_MN-014

O trilho percorrido tinha cerca de 700 metros, mas o declive (média de 35%),  aliado ao piso intragável (pedras rolantes e regos de água), fizeram-me perder o pio a dado momento (quem me conhece, sabe que sou conversador). O ritmo da escalada, em contra-relógio com o sol poente, provocou em mim um silêncio tão prolongado que assustou o Gomes que caminhava à minha frente…

Às 16:04 conseguia com alguma dificuldade, o primeiro de 7 QSOs. Depois, a greyline fechou a propagação. Quando eu dava por terminada a minha activação, fiquei a saber que o Gomes não tinha conseguido nenhum contacto em diversas bandas. O frio apertava cada vez mais, a propagação dava ares da sua graça, a bateria do meu rádio estava nos vapores, mas com insistência e teimosia, lá voltou a aparecer a santa propagação dos 40 metros e esta permitiu ao Gomes validar o cume com alguns QSOs nos 40 metros também.

Cerca das 19:00, estava novamente à porta de casa, 12 horas depois de ter encontrado o Gomes no ponto de encontro. Foi um dia em que o que correu mal fica quase imperceptível, junto do facto de termos validado 3 activações num dos cantos mais remoto da região Minho. Positivo, foi também o teste ao equipamento em condições mais agrestes, desde o vestuário especial recém-adquirido à autonomia da bateria. Tenho de reconhecer também que a última activação foi concretizada com alguma sorte, dada a hora a que ocorreu, em que a propagação dos 40 metros estava de partida.

Os ficheiros GPX com os trilhos percorridos estão disponíveis no sotamaps e na secção SOTA do meu site.

Ao Gomes (CT1HIX), fico agradecido pela excelente companhia neste dia.

73 de CT7AFR, Emmanuel.

O que pode correr mal num SOTA (XII)

Hoje foi dia de aproveitar uma oportunidade inesperada na agenda da família e na meteorologia, para fazer um SOTA num dos cumes próximos do QTH que deixei para os dias curtos de Inverno. Hoje foi dia de activar o Monte de São Gonçalo (CT/MN-041), cujo início da subida fica a pouco menos de 30 minutos de carro, de Viana do Castelo.

Trabalhinho de casa feito há meses, foi meter as tralhas no carro, despedir-me da família e meter-me a caminho. Como o título desta rubrica sugere, algo correu mal. E como hoje estou com pressa, não me vou alongar muito neste texto, com suspense e outras líricas. Vou desde já, exibir a imagem abaixo, para ilustrar o que aconteceu…

Correu_mal

É isso! O trabalho de casa, baseado na observação de carta topográfica e ortofotos, indicava-me a existência de um pseudo-trilho que me permitiria encurtar a distância a percorrer. Chegado ao local, encontrei o pseudo-trilho conforme o esperado. Era um “trilho” marcado pela passagem de veículos com 4 rodas (2, se forem carroças). Mas a partir de dado ponto, o trilho passou a ser marcado pela passagem de água. Neste dia, por falta de chuva, o trilho estava praticamente seco. A pouca humidade visível pertencia aos musgos que cobriam as pedras e aguardavam que me aventurasse neles para, provavelmente, espalhar-me ao comprido…

O declive era o esperado, de acordo com o trabalho de casa já referido. O que não era esperado, era uma parede de rocha no local onde termina o traço azul, parcialmente circunscrito a amarelo. Era apenas uma parede de rocha porque não havia água; assim que chover, será uma cascata!

A imagem não ilustra os rodeios que fiz à cascata para tentar contorná-la. Passaram-se uns minutos e decidi voltar para trás. Naquele momento, já não confiava nesta parte do meu trabalho de casa e não queria arriscar outra surpresa eventual, a montante da cascata.

Agora, no QTH, ao estudar a caixa negra da minha viagem (log GPS), apercebo-me que neste apêndice, perdi apenas 11 minutos. Porém, com base no que senti na pele (literalmente – o trilho está forrado a tojo e silvas), juraria que foram pelo menos 30!

Regressado ao estradão que desenha uma boa parte do trajecto, impõe-se realçar a inclinação do mesmo que logo desde os primeiros metros, põe o coração a bater nas 110+ bpm. A distância total percorrida foi de quase 3 km, feitos em 1 hora e 3 minutos. Não fosse o desvio inútil, a ascensão teria sido feita em 50 minutos.

Esta activação, realizada unicamente na banda dos 40 metros, somou 29 QSOs com operadores de Portugal, Espanha, Reino-unido, Itália, Bélgica e França; em cerca de 15 minutos. A viagem de regresso demorou exactamente meia hora.

O ficheiro GPX do trilho está disponível no site SOTAMAPS ou aqui:

73 de CT7AFR, Emmanuel.