SOTA

O que pode correr mal num SOTA (XIV)

EA1_OU-013

Nem só de caminhadas e operações com rádio, se fazem SOTAs. Uma SOTAda implica uma preparação prévia e algum trabalho de pós-produção, entre outras tarefas mais ou menos óbvias. Este artigo não visa explicar como faço as minhas activações, pelo menos, com o título que tem. Para contar como preparo e executo as minhas activações, escreverei outro artigo, um dia…

Não, este artigo, como o título indica, revela mais uma “armadilha” que pode aparecer na linha de uma activação.

Por já me ter acontecido no passado e por saber que aconteceu com outros sotistas, resolvi deixar por escrito aqui, um pequeno guia de correcção de gafes no LOG da sotada, submetido no sítio sotadata.

O primeiro tipo de erro é comum e simples de cometer. Ocorre quando se está a inserir manualmente no LOG, um a um, os contactos realizados. Trata-se do erro tipográfico. Pode acontecer na Hora, no Indicativo de Chamada ou até na selecção de um dos ítens dos menus drop-down, Band ou Mode. A imagem abaixo, ilustra um desses erros. NOTA: Esta imagem e as seguintes, são apenas ilustrativas e não correspondem a alguma activação real.

Gafe 1

Para corrigir o erro no Callsign, terei de eliminar (Delete) a linha correspondente e voltar a inserir os dados relativos a este contacto. O sistema de gestão de LOGs inserirá a nova linha no local certo, uma vez que os contactos são ordenados cronologicamente, conforme ilustra a imagem abaixo.

Gafe 1 resolvida

A outra situação de erro, ocorre quando o activador se apercebe do erro já depois de ter submetido o LOG ao sistema de gestão (através da acção no botão Finish e posterior confirmação na tick-box “I Agree”). Esta percepção acontece normalmente quando um dos caçadores reclama do erro ou se o activador fizer uma verificação posterior. A imagem abaixo ilustra um situação de erro identificado na consulta do LOG relativo a uma activação.

Gafe 2

Esta situação pode ser resolvida de duas maneiras diferentes, dependendo do tamanho do LOG (número de contactos registados). A solução mais radical passa pela eliminação do LOG e criação de um novo; voltando a inserir todos os contactos, um a um.

A outra solução consiste nos seguintes passos (implica ter feito o login no sistema):

  1. Ir à pagina Activator Log e na linha corresponde à activação cujo LOG contém erro(s), clicar no botão “Download” e gravar no computador o ficheiro CSV oferecido pelo site. SOTA_4
  2. Editar este ficheiro com uma aplicação tipo OpenOffice Calc, Microsft Excel ou outro processador de folhas de cálculo (não esquecendo de gravar o ficheiro alterado no mesmo formato CSV).SOTA_5
  3. Na página Activator Log, apagar o LOG clicando na ligação “Delete”. SOTA_6Na página que aparece em seguida, confirmar o apagamento, clicando no botão “Delete”. SOTA_7
  4. Na página de entrada do sotadata, ir ao menu Submit Log e ecolher o ítem Import Activator TSV/CSV. SOTA_8
  5. Clicando no botão “Browse…”, seleccionar o ficheiro CSV que foi editado anteriormente (isto é, em que foram efectuadas as correcções de erro). Em seguida, clicar no botão “Upload File”. SOTA_9
  6. Se o LOG estiver correcto, clicar no botão “Submit Entry”. SOTA_10
  7. Confirmar a inserção do LOG no sistema para validação. SOTA_11
  8. O LOG já está inserido no sistema, os pontos foram contabilizados, o problema está resolvido. SOTA_12

O SOTA só termina quando o LOG está contabilizado no sistema de gestão de activações da sotadata. Até este ponto, com o caro adepto desta saga(*) deve ter reparado, muita coisa pode correr mal num SOTA…

73 de CT7AFR, Emmanuel.

(*) Se ainda não leu, leia os restantes episódios da série “O que pode correr mal num SOTA“.

O que pode correr mal num SOTA (XIII)

moi_CT_MN-016

Pois bem, a brincar a brincar, cheguei ao décimo terceiro episódio da série O que pode correr mal num SOTA. Por se tratar do episódio treze, este vai ser especial, vou usar psicologia inversa para não ter de mudar o título…

Quinta-feira 8 de Dezembro de 2016, dia feriado em Portugal. Com a meteorologia a prever céu quase limpo no Minho, ficando o “quase” para algumas nuvens cuja base não desceria abaixo dos 2000 metros, esta quinta-feira teria de ser dia de SOTA! E assim foi!

Com o colega e amigo CT1HIX (Gomes), tínhamos sonhado dias antes, riscar da lista os dois cumes da Serra da Cabreira: CT/MN-016 e CT/MN-003.

Contas feitas, atacaríamos o MN-016 em primeiro, estimando o início da activação para as 11:00 Zulu. O Gomes fez o especial favor de me apanhar em Viana para seguirmos viagem até à Serra da Cabreira. Os percursos estavam devidamente planeados no GPS, as estimas do início de cada activação foram anunciadas no sotawatch, da seguinte forma:

  • CT/MN-016 – 11:00 +/- 30 min.
  • CT/MN-003 – 15:00 +/- 30 min.

O primeiro trilho (para o MN-016) era composto por um misto de caminho em terra, corta-mato e estradão de gravilha (daqueles, típicos dos parques eólicos). Com um comprimento de perto de 3,5 quilómetros, estava previsto ser percorrido numa hora de marcha sempre ascendente. O segundo trilho, apesar de ter apenas um terço da distância a percorrer (cerca de 1 quilómetro), era apenas composto por corta-mato, num terreno íngreme e ainda por cima, em socalcos estilo escadas de gigante, para quebrar o ritmo de marcha…

track_CT_MN-016

Tudo começou a correr mal quando chegamos ao início do primeiro trilho, muito antes da hora prevista. Além disto, a subida foi mais fácil do que o esperado; mesmo assim com algumas breves paragens para recuperar algum fôlego enquanto escrutinávamos a paisagem. No cume, fomos acolhidos por uma matilha de cães de caça com ares esfomeados, porém, inofensivos (cão que ladra…). O local era desprovido de vegetação alta, pelo que o risco de ser confundido com algum javali, era reduzido, dependendo apenas da taxa de alcoolemia dos caçadores presentes.

Fomos até ao Vértice Geodésico (VG) existente no local (não aparece referenciado nas listagens da Rede Geodésica Nacional) e apreciadas as vistas, verificamos que o ponto mais alto do cume corresponde às coordenadas oficiais SOTA, sensivelmente a 244 metros a Norte do VG. Foi do local oficial que activei o cume na banda de 40 metros, enquanto o Gomes fazia o mesmo noutras bandas, ali perto.

O início da activação estava previsto para as 11:00, mais ou menos meia hora. No entanto, às 10:31 tinha feito o meu último QSO, num total de onze, entre espanhóis, ingleses, um português, um alemão e um italiano.

É um facto que, na minha pouca experiência sotista, os alertas deixados no sotawatch raramente vêem as horas a bater certo. Confesso que é um pouco por isto, pela falta de pontualidade inerente a este tipo de explorações, que gosto pouco de anunciar antecipadamente as minhas activações. Para a próxima, anuncio a hora prevista com uma tolerância de mais ou menos uma hora (ou mais).

Cerca de uma hora depois, já estávamos no carro a partir para o cume seguinte: CT/MN-003. Este cume dista do primeiro, cerca de 6,5 km em linha recta; o triplo, pelo caminho percorrido de carro.

Este trilho inicia-se num pequeno bosque, para que o carro ficasse à sombra, e representa uma distância de cerca de 1 quilómetro. Apesar da pouca distância, esta ia servir a terceira marcha do dia, sempre a subir e a subir bem, com um ganho total de elevação de 136 metros numa distância rectilínea de pouco mais de 600 metros.

trilho_CT_MN-003

Esta activação estava anunciada para as 15:00. Às 13:20 registava o meu último QSO, de uma série de 18 contactos em doze minutos, com estações espanholas, inglesas, alemãs, suíças e, pela primeira vez nos meus SOTA, sueca. Tudo, como sempre, nos 40 metros.

Regressados ao carro cerca das 14:30, estávamos com um brilho especial nos olhos ao vislumbrar no horizonte, a possibilidade de activar um terceiro cume neste dia: CT/MN-014 (Cerdeira). Instalou-se então a confusão com os GPSs. O tablet (Android) com Navigator, usado para navegar até aqui, não sabia onde ficava o cume desejado (não estava previsto, não tinha sido inserido nos POI). A cobertura GSM era inviável para espreitar a olho, o caminho no Google-Earth. O Etrex tinha os cumes todos para SOTA, mas não era o melhor para navegar de carro por estrada… Recorreu-se então a uma mistura de todas estas ferramentas para convergir visualmente para o cume, até o Gomes (que já tinha activado este cume) ter um flash-back e recordar o caminho a partir de dado momento.

O Sol estava cada vez mais baixo e tínhamos perdido algum tempo precioso na viagem para este cume. Optou-se por chegar tão perto quanto tolerável do cume, de carro. Estacionamos a pouco mais de 650 metros do Vértice Geodésico CERDEIRA, junto à junção de um “caminho de cabras” com o estradão de gravilha.

trilho_CT_MN-014

O trilho percorrido tinha cerca de 700 metros, mas o declive (média de 35%),  aliado ao piso intragável (pedras rolantes e regos de água), fizeram-me perder o pio a dado momento (quem me conhece, sabe que sou conversador). O ritmo da escalada, em contra-relógio com o sol poente, provocou em mim um silêncio tão prolongado que assustou o Gomes que caminhava à minha frente…

Às 16:04 conseguia com alguma dificuldade, o primeiro de 7 QSOs. Depois, a greyline fechou a propagação. Quando eu dava por terminada a minha activação, fiquei a saber que o Gomes não tinha conseguido nenhum contacto em diversas bandas. O frio apertava cada vez mais, a propagação dava ares da sua graça, a bateria do meu rádio estava nos vapores, mas com insistência e teimosia, lá voltou a aparecer a santa propagação dos 40 metros e esta permitiu ao Gomes validar o cume com alguns QSOs nos 40 metros também.

Cerca das 19:00, estava novamente à porta de casa, 12 horas depois de ter encontrado o Gomes no ponto de encontro. Foi um dia em que o que correu mal fica quase imperceptível, junto do facto de termos validado 3 activações num dos cantos mais remoto da região Minho. Positivo, foi também o teste ao equipamento em condições mais agrestes, desde o vestuário especial recém-adquirido à autonomia da bateria. Tenho de reconhecer também que a última activação foi concretizada com alguma sorte, dada a hora a que ocorreu, em que a propagação dos 40 metros estava de partida.

Os ficheiros GPX com os trilhos percorridos estão disponíveis no sotamaps e na secção SOTA do meu site.

Ao Gomes (CT1HIX), fico agradecido pela excelente companhia neste dia.

73 de CT7AFR, Emmanuel.

O que pode correr mal num SOTA (XII)

Hoje foi dia de aproveitar uma oportunidade inesperada na agenda da família e na meteorologia, para fazer um SOTA num dos cumes próximos do QTH que deixei para os dias curtos de Inverno. Hoje foi dia de activar o Monte de São Gonçalo (CT/MN-041), cujo início da subida fica a pouco menos de 30 minutos de carro, de Viana do Castelo.

Trabalhinho de casa feito há meses, foi meter as tralhas no carro, despedir-me da família e meter-me a caminho. Como o título desta rubrica sugere, algo correu mal. E como hoje estou com pressa, não me vou alongar muito neste texto, com suspense e outras líricas. Vou desde já, exibir a imagem abaixo, para ilustrar o que aconteceu…

Correu_mal

É isso! O trabalho de casa, baseado na observação de carta topográfica e ortofotos, indicava-me a existência de um pseudo-trilho que me permitiria encurtar a distância a percorrer. Chegado ao local, encontrei o pseudo-trilho conforme o esperado. Era um “trilho” marcado pela passagem de veículos com 4 rodas (2, se forem carroças). Mas a partir de dado ponto, o trilho passou a ser marcado pela passagem de água. Neste dia, por falta de chuva, o trilho estava praticamente seco. A pouca humidade visível pertencia aos musgos que cobriam as pedras e aguardavam que me aventurasse neles para, provavelmente, espalhar-me ao comprido…

O declive era o esperado, de acordo com o trabalho de casa já referido. O que não era esperado, era uma parede de rocha no local onde termina o traço azul, parcialmente circunscrito a amarelo. Era apenas uma parede de rocha porque não havia água; assim que chover, será uma cascata!

A imagem não ilustra os rodeios que fiz à cascata para tentar contorná-la. Passaram-se uns minutos e decidi voltar para trás. Naquele momento, já não confiava nesta parte do meu trabalho de casa e não queria arriscar outra surpresa eventual, a montante da cascata.

Agora, no QTH, ao estudar a caixa negra da minha viagem (log GPS), apercebo-me que neste apêndice, perdi apenas 11 minutos. Porém, com base no que senti na pele (literalmente – o trilho está forrado a tojo e silvas), juraria que foram pelo menos 30!

Regressado ao estradão que desenha uma boa parte do trajecto, impõe-se realçar a inclinação do mesmo que logo desde os primeiros metros, põe o coração a bater nas 110+ bpm. A distância total percorrida foi de quase 3 km, feitos em 1 hora e 3 minutos. Não fosse o desvio inútil, a ascensão teria sido feita em 50 minutos.

Esta activação, realizada unicamente na banda dos 40 metros, somou 29 QSOs com operadores de Portugal, Espanha, Reino-unido, Itália, Bélgica e França; em cerca de 15 minutos. A viagem de regresso demorou exactamente meia hora.

O ficheiro GPX do trilho está disponível no site SOTAMAPS ou aqui:

73 de CT7AFR, Emmanuel.

O que pode correr mal num SOTA (XI)

O cume CT/MN-029 (Senhora da Lapa) é um cume tão acessível que dá para lá ir de carro. “Lá”, isto é, na zona dos 25 metros abaixo da cota do cume. Um cume que despertou em mim uma dúvida geológica, ou geográfica: O que define o cume de uma montanha? A parte mais elevada do seu terreno ou a parte de cima do penedo que está sobre a montanha? Bom, para mim e para efeitos das minhas sotadas, o cume é o ponto mais alto existente na montanha a activar. Aquele ponto do qual se pode olhar a toda a volta de cima para baixo… O cume CT/MN-029 é uma montanha sobre a qual repousam alguns penedos gigantescos. Tão grandes que só consegui chegar-me aos penedos, subir aos mais pequenos e ficar a olhar para os maiores. O trilho percorrido inicia-se junto a uma capela (da Senhora da Lapa) que foi construída “à sombra” de um destes penedos, típicos da região.
Capela da Senhora da Lapa
Não foram porém, os penedos que iam estragando a sotada, não. Tentei chegar tão alto quanto a vegetação, as minhas pernas e mãos permitiram, mas não consegui atingir o “meu” cume. Faltaram um machado e/ou uma escada com uns 5 metros… Já que dá para chegar ao local de carro, da próxima vez que for activar este cume, trarei a escada “na mochila”; mais não seja para fazer o vídeo de 360 graus e substituir o que deixei aqui (https://www.youtube.com/watch?v=iv4JMTmBi00), pois sobre este penedo só é possível montar uma antena vertical, uma vez que não há espaço para um dipolo em V-invertido como o meu.
CT/MN-029
Se não foram os penedos a colocar em risco a sotada, o que foi? – pensa o leitor – o que correu mal nesta sotada? Várias coisas! Tantas que só faltava mesmo uma avaria no equipamento para estragar a sotada e a tarde (de alguma forma).

A montagem do shack foi feita na beira do estradão que passa na zona SOTA, para facilitar o esticanço do meu dipolo de meia onda para a banda dos 40 metros. Ainda assim, foi preciso algum malabarismo com a vegetação alta e os ramos dos pequenos eucaliptos que por lá estavam. Se a montagem da antena foi complicada, mais difícil foi a desmontagem da mesma que ia ficando presa nos galhos e cujos “braços” voltaram ao dono, cheios de resina e pó de terra. Resumindo, a antena ficou um nojo! Lembram-se de no último episódio desta saga, ter voltado para o QTH com a antena molhada? Desta vez, foi pior: resina e pó. O coaxial também voltou para a mochila com resina q.b.

A estes ingredientes, juntou-se algum stress pela pressa com que ia sendo arrumado o shack. «Pressa? Então porquê?» – perguntam vocês. Eu explico. Nesse ameno sábado de tarde de Outono, ainda não tinha feito o meu primeiro QSO que fiquei rodeado de cabras; pacíficas.
As cabras, junto ao trilho de regresso ao carro
As cabras, a alguns metros do trilho, no regresso ao carro.
Timidamente, lá comecei a chamar na frequência enquanto as cabras e eu trocava-mos olhares de atenta curiosidade. Após o primeiro QSO, pensava eu que a selfie da sotada ia ficar fixe se aparecesse alguma cabra na imagem. Mas não deu. Nem uma foto! Pois durante aquele que iria ser o meu último QSO (apenas o sexto), reparei que as cabras se afastaram de mim enquanto um chocalho se ia aproximando por trás. Volto-me e lá estava ele a olhar de frente, fixamente para mim. Mas que bela besta! E que arrepio senti na espinha (acabei de voltar a sentir, enquanto escrevo este texto). A uns 10 metros de mim, permanecia imóvel um belo macho de raça Cachena, solitário, com pêlo preto a lembrar os touros ribatejanos, degradando para o castanho típico desta raça. Para me acalmar do susto, pensei para mim: «ah e tal, são animais pacíficos, habituados à presença do Homem…».
Belo boi de raça Cachena
«Ah e tal o caraças! Queres ver que o gajo quer participar comigo na activação?!» – pensei eu, em sobresalto, quando o vejo a dirigir-se para mim. Com o cavalheirismo de quem cede a passagem a uma donzela, coloquei o eucalipto que segurava no meu rádio, entre o animal e eu, sem nunca o perder de vista. Os segundos que demorei a perceber que ele não queria nada comigo, pareceram horas. Mesmo assim, por mais duas ou três vezes, ele virou-se de frente para mim, com as orelhas a desenhar o alfabeto grego no ar. Ainda agora não sei se ele estava chateado com a minha presença, mas no momento, com os mínimos superados, optei por terminar a activação, arrumar tudo e voltar para o carro, como quem não quer nada.

Sempre de olho no boi que volta e meia adoptava uma pose ameaçadora (penso eu, do alto da minha ignorância), lá consegui lutar contra a vegetação que não queria deixar-me levar a antena de volta para casa. Acabou por ceder à minha vontade, deixando as suas marcas resinosas por todo o lado. Para trás deixei o belo boi, caminhando calmamente em direcção ao carro mas com os ouvidos sintonizados no chocalho.
Desta activação, resultaram apenas 6 QSOs. A activação da manhã (CT/MN-025) tinha sido mais rica em contactos (18), apesar de estar a decorrer o concurso CQWW.
73 de CT7AFR, Emmanuel.

O que pode correr mal num SOTA (X)

Porcaria de WX para amanhã

Com o Outono à porta e o Inverno a caminho, chegou o momento de impermeabilizar o equipamento de SOTA. As últimas duas semanas foram de céu nublado nos dias úteis e fins de semana com aguaceiros. O meu corpo já estava a ressacar da falta de RF ao ar livre. Na lista de espera estão as Penedas (MN-008 e MN-017) mas as previsões meteorológicas não autorizam caminhadas sobre penedos molhados. Impõe-se a escolha de um cume mais baixo e mais perto do QTH: CT/MN-048 Monte de Góis (erradamente referido como “Vila Nova de Cerveira”, nos documentos oficiais SOTA).

D-1 / 2155Z: Última consulta às previsões meteorológicas de 4 fontes diferentes, último contacto BF com o CT1HIX para rever alguns detalhes. 50% de probabilidade de ocorrência de precipitação de cerca de 1mm/3h com vento fraco a partir das 1000Z… Vamos nessa Vanessa!

Dia D / 0400Z: Wake up! Às 05:30 temos de estar no “meeting-point” (N41.909050 – W008.760976) onde ficarão os carros e de onde seguiremos a pé até ao cume do Monte de Góis. São cerca de 2300 metros de estrada de terra batida e pedra, devidamente sulcada pelas chuvas, porém “navegável” em veículo Todo-Terreno.

Segundo o estudo prévio do caminho, o ganho em altura é de apenas 160 metros. No entanto, este ganho é apenas acumulado nas últimas centenas de metros do caminho; aquilo sobe, sobe, sobe!

Meeting-point: São 0530Z, está uma escuridão que só não é total graças à poluição luminosa que é reflectida no tecto de nuvens. Ainda assim, são precisos alguns minutos para os olhos se adaptarem à luz ambiente, depois de ter extintos todas as luzes do carro, telemóvel ou GPS.

Chegou o companheiro de SOTA, o colega e amigo Gomes (CT1HIX); não está a chover, apesar da chuva que nos acompanhou nos respectivos caminhos desde os respectivos QTHs. Mochilas às costas, canas de pesca à mão, última confirmação de que tudo está pronto para seguir viagem e de que os carros ficam trancados, aí vamos nós! Às escuras que lanternas é para meninos! Não, não foi isto que correu mal, havia lanternas mas não fizeram falta… 🙂

O caminho fez-se bem, polvilhado com breves pausas para deixar o corpo habituar-se ao ganho de altitude, cof cof cof… arrrf!  Umas das vantagens de não caminhar sozinho é a caminhada parecer mas breve do que ela é. E se a conversa for radio-eléctrica, tanto melhor. Ao chegar ao fim do caminho (ver trilho aqui) encontra-se um portão aberto que dá acesso a um complexo de emissoras diversas e de um PT com um alpendre apropriado para abrigar das intempéries, um par de sotistas. Do outro lado deste complexo, fica o Vértice Geodésico.

Radioamador abrigado da chuva e do vento, "protegido" dos mosquitos

Chegados ao cume, salta à vista a falta de espaço para dipolos de HF. Na imagem acima, vê-se o dipolo da banda dos 40 metros, cujas extremidades dos braços ficam a uns míseros centímetros da cerca metálica. O local aparenta uma certa falta de cuidado com a vegetação a recuperar o terreno que outrora lhe foi tirado, mas aquele alpendre valeu ouro nesta manhã chuvosa.

O que mais podia correr mal nesta activação? Os mosquitos que nos devoraram sem dó nem piedade e cujas proboscis eram tão eficazes que até através da roupa chegavam onde estava o néctar. Entre outros papos aqui e acolá, eu fiquei com três nádegas, o Gomes voltou para casa com um olho à Camões. Sacanas dos mosquitos do campo não gostaram de ver o seu lar invadido; ou será que adoraram? Afinal, não é certamente todos os dias que provam sangue de sotista, enriquecido com o precisoso RF da mais alta sintonia… (vou ali tomar umas gotas).

E ainda? QRM? Já estamos habituados. Neste local, S8 para quem quiser, nos 40 metros.

Enquanto operamos, a chuva intensificou-se e veio acompanhada de um vento fraco. Apesar de todos os preparativos de impermeabilização do equipamento, foi já depois da activação que surgiu um aspecto no qual não tinha pensado. O equipamento e o operador (neste caso, eu) foram para o cume bem acondicionados, à prova de água. Do que não me lembrei, é que depois da activação à chuva, a antena e o coaxial estariam molhados e teriam de voltar para dentro da mochila, juntinho do rádio!!! Valeu-me o par de calças impermeáveis que trazia na mochila para embrulhar a fiarada. A juntar ao check-list para o próximo scuba-sota: uns sacos estanques, um pano absorvente e eventualmente, um saco de gel de Sílica para ir absorvendo humidade do ar dentro da mochila, durante o transporte.

A descida foi toda feita sob uma chuva um nadinha mais pesada do que a de molha tolos (molha parvos, morrinha); ainda assim chegamos aos respectivos carros com as capas completamente molhadas. Para trás ficou o cume e a dupla satisfação de lá ter ido e de o ter activado.

CT/MN-018

Concluindo, pela parte que me toca, foi um SOTA molhado mas validado com um S2S entre os dez QSOs, dos quais destaco o meu primeiro contacto com os Estados Unidos da América, em 40 metros SSB. Curiosamente também, esta foi a primeira activação (das trinta já realizadas) em que nenhuma estação espanhola atendeu as minhas chamadas; porque será? Seria da QTR? 🙂

73 de CT7AFR, Emmanuel.

selfie

O que pode correr mal num SOTA (IX)

Ligação improvisada do coaxial ao balun
Ligação improvisada do coaxial ao balun
Há dois dias publicava mais um episódio desta saga (o XVIII), sem imaginar que na activação seguinte iria ter motivos para escrever mais acerca do que pode correr mal numa actividade Sótica…
 
Hoje é feriado, é dia de não-trabalho, as mulheres da casa querem passar o dia em pijama… Então para mim, hoje é dia de SOTA! Nas três activações que fiz recentemente com o colega CT1HIX (Gomes), avistamos sempre o cume da Bouça dos Homens (CT/MN-009). O Gomes já o tinha facturado, eu olhava para ele de canto. O acesso é fácil, tão fácil que dá para ir de carro. Quem quiser ir a pé, não chega a palmilhar uma hora se seguir pelo estradão que começa na estrada municipal M503; são cerca de dois quilómetros (sempre a subir).
 
Chegado ao local, fiquei contente por ter rede GSM que me iria permitir autospotar. Em vez, de activar na coordenadas SOTA, fui até ao Vértice Geodésico (VG Fojo) por duas razões: 1) à vista desarmada parece esta mais alto que o ponto SOTA; 2) o marco dá jeito para segurar na cana de pesca. 🙂
 
Cheguei ao local, fiz o meu videozeco 360º ( https://www.youtube.com/watch?v=W7yQniIIM9I )e montei o shack. Ligo o rádio e, apesar dos muitos geradores eólicos nas redondezas, QRM nulo e a minha frequência habitual estava aparentemente livre! Yupiiii, pensei logo para mim… Porém, quando começo a perguntar na frequência “Is this frequency in use?”, do canto do olho vejo que não podia ter mais estacionárias!!!! Rapidamente espreitei a ligação do coaxial ao rádio, conferi que os braços do dipolo continuavam como os tinha deixado e olhei para o balun para ver se me teria esquecido de ligar o coaxial a este. Nada. À primeira vista, não via nada.
 
Baixei o mastro e mal puz a mão no balun, ouvi o rádio a gemer. Afinal sempre havia um pouco de QRM na banda, afinal havia um mal contacto entre o coaxial e o balun… Afinal o cabo RG-58 estava partido junto da ficha BNC que ligava ao balun. Bolas!!! E agora?
 
Bom, ir para casa de bolsos vazios estava fora de questão. Tentar 4 QSOs em 2 metros iria ser complicado com a antena de borracha e dificilmente encontraria um caçador de SOTAs nos 2 metros ali por perto. Junto a um gerador eólico estava uma carrinha da ENERC0N; certamente estariam técnicos a trabalhar nessa torre. Pensei em ir lá cravar o ferro de soldar deles, acreditando que teriam um… Não, optei por outra hipótese, mais fácil e rápida. Cortar o cabo um pouco abaixo da ficha BNC, descarnar uns 5 centímetros e enrolar as partes directamente no balun (ver foto). A solução ficou feia mas tinha de funcionar. Perdi uns dez a quinze minutos com esta avaria.
 
Operacional, apesar de algum QRM, os “meus” 7,183 MHz estavam livres, à minha espera. Chamei, autospotei-me no Sotawatch, mas mesmo assim demorou até ao primeiro QSO, depois foram mais seis e fiquei com mais um dia duplamente ganho (passeio e validação do SOTA). Curiosamente, pela primeira vez, os espanhóis ficaram em minoria: 1 EA, 1 CT, 1 PA, 1 ON, 1 M3 e 2 G.
No fim de contas, uma das BNC do meu coaxial avariou ao fim de uma quarentena de utilizações entre SOTAs e outras activações. Só a autópsia revelará a verdadeira causa da avaria…
73 de CT7AFR, Emmanuel.

O que pode correr mal num SOTA (VIII)

Activando o Alto da Pedrada (CT/MN-001)
Activando o Alto da Pedrada (CT/MN-001)

No passado sábado, activei o meu vegésimo sétimo cume; mais uma vez, na companhia do colega Gomes (CT1HIX). Há uns meses, quando pensamos em activar um cume juntos, estavamos a pensar no CT/MN-001 (Alto da Pedrada). Porém, enquanto não metemos os pés a caminho deste cume, activamos outros na mesma região: uma delícia.

Chegou então a vez do tão adiado MN-001. Como sempre, muito trabalho de casa, muitas conversas telefónicas, muitos chats no Fuças ou por e-mail, mas sempre com um olho nas cartas (virtuais) e outro nas previsões meteorológicas. Em relação ao WX, até tefigramas consultamos para estimar se o cume estaria no meio da “sopa” ou não. 🙂

É no capítulo das cartas que a coisa pode também correr mal… Ressalvo já que o “correr mal” é relativo; mau mau seria torcer um pé, partir uma perna ou apanhar uma descarga atmosférica, por exemplos.
Voltando às cartas: CUIDADO com o Google-Terra e os seus perfis verticais, aquilo mente mente mente; aliás, mente mais que um meteorólogo! Passo a explicar. Quando preparo uma ida a um cume, procuro por trilhos eventualmente existentes, no capítulo Tracks do SOTA, no wikiloc, nas cartas topográficas (se tiver) e nas imagens aéreas do Google-Terra. Se não aparece nada, traço uma recta entre os pontos de partida e de chegada e procuro percorrer esta linha contornando buracos e paredes.

Para o passado sábado, o trilho estava traçado: saída da Branda de Gorbelas, subida em direcção ao cume com passagem turística por um fojo (lobos). Encontram-se na Net vários trilhos com o mesmo percurso inicial que o nosso; portanto, não inventamos nada. O que não esperavamos no local, por engano do perfil vertical do GE, é ter de caminhar numa calçada (sim, calçada) em pontas de pés, de tão íngreme que é. Mas quem subiu ao “Concieiro” (i.e., Penameda), já não se assuta com facilidade. Não se assusta, mas passados 10 minutos fica com os “bofes de fora”. Aquilo começa mesmo “a matar”. Convém fazer aquecimento prévio antes de meter calcantes a caminho. Ou então, fazer como nós: devagar…

O segundo inesperado do dia foi provocado por excesso de confiança (entenda-se, falta de experiência minha) nas pilhas recarregáveis NiMH. Após muitos trilhos com pilhas destas no meu GPS, nunca tive problemas até ao passado sábado. Levo duas no GPS (Etrex 30x) e outras 2 ou mais na mochila, carregadas; pensava eu…

Ao quilómetro N, já perto do fim do fojo, a cerca de 500 metros do cume, o GPS dá-me aviso de pilha fraca. Pelo sim pelo não, resolvi substituir. Não precisava do GPS, a visibilidade era óptima, apenas umas núvens brincavam às escondidas com o Sol e o cume estava “já ali”. Coloco as plhas “carregadas” e? Nada! Ora bolas; teria cometido algum erro em casa? Coloco o outro par de pilhas “carregadas” e? Nicles picles!… «Arre! Não preciso do GPS mas quero gravar o trilho». Valeu-me o amigo Gomes que me ofereceu um par de pilhas alcalinas (por escrever isto, lembro-me agora que não reconfigurei o GPS de pilhas recarregáveis para alcalinas). Obrigado Gomes! 😉

O que aprendi com esta estória:
1) As pilhas NiMH (as minhas são de 2450 mAh), apesar de terem apenas meia dúzia de ciclos de carga, descarregam-se em menos de 2 meses após uma carga completa. Ou seja, deve-se carregar as pilhas na véspera para garantir a frescura dos electrões.
2) Ter sempre à mão, um par de pilhas alcalinas. Mesmo que se leve pilhas recarregadas.

No final de contas, tendo chegado ao cume o dia foi positivo: Caminhamos quase 10 km com paisagens deslumbrantes, visitamos um fojo, encontramos duas caches, atravessamos a nascente do rio Vez, vimos um Cervo, muitas perdizes e vacas cachenas. E com isto, somei 7 QSOs difíceis (bad propagation) com um F, um G e 5 EA.

73 de CT7AFR, Emmanuel.

O que pode correr mal num SOTA (VII)

Logbook
Logbook

Por mais que se consultem cartas topográficas, ortofotos, trilhos e testemunhos de pioneiros, nada bate a experiência pessoal e o respectivo somatório final. O colega Carlos Gomes (CT1HIX) e eu combinamos unir forças às 0600Z junto do QTH do primeiro, para iniciar o ataque ao cume CT/MN-011 Penameda (erradamente referido como Concieiro). Levantei-me às 05:00 de uma noite preenchida com insónia; provavelmente fruto de uma excitação infantil pelo que estava previsto para o dia seguinte: SOTAAAAAAA. 🙂 Estava tudo preparado desde a véspera. Era só tomar um duche, vestir-me e meter-me no carro com destino ao “meeting point”…

1) Ao chegar ao portão da garagem do prédio onde resido, constato que este está meio-aberto, meio-fechado. Tanto com o comando quanto com o botão de parede, o portão não se mexe, começa bem o dia! A viagem QTH-meeting point tem uma duração prevista de 45 minutos, precisamente o tempo que tenho para não chegar atrasado. Quero abrir manualmente o portão, mas desapareceu o cabo que solta o mesmo do carrinho de reboque. Vou à minha garagem buscar uma vara (daquelas de fixar um rolo de pintar) e lá consigo soltar o portão que se fecha violentamente, num fantástico estouro sonoro de acordar um prédio inteiro. O cabo de aço que prende o portão ao sistema de mola que alivia o peso do mesmo estava desengatado. Era preciso uma pessoa para abrir o portão e segurá-lo em cima, enquanto outra tirava o carro da garagem do prédio. O raio do portão parecia pesar toneladas para o levantar até à posição de aberto. E depois? Quem o segura? Lá me lembrei de ordenar ao sistema para “abrir” até que o trinco engatasse novamente no carrinho de reboque. Sucesso! O portão ficou aberto! Vou arrumar a vara de pintor na garagem, volto para o carro, meto-me nele e vejo o portão a fechar automaticamente porque já estava aberto há 1 minuto… Ou seja, voltei à estaca zero. Como já conhecia a receita, voltei a repetir os passos necessários, mas desta vez, a vara de pintor ficou na mala do carro! Estava a deixar o meu QTH cerca de 20 minutos após a ETD. No caminho deu para recuperar 5 minutos tendo chegado ao meeting-point cerca das 0615Z, onde me esperava o CT1HIX devidamente informado da minha peripécia, via CQ0VSA.

2) O meu carro ficou no meeting-point e seguimos no carro do Gomes para o ponto inicial do trilho. Com o entusiasmo de meter os pés ao cominho, o meu chapéu ficou no banco do MEU carro. O que me vale é ter a cabeça dura, mas certamente iria ficar com dores tipo ressaca nofim do dia (e fiquei!). Falhou a consulta do check-list “before take-off”. 😉

3) Pela primeira vez, iria seguir um trilho no meu GPS, baseado numa mistura de trilhos sacados do wikiloc, em vez de me orientar pelos trilhos referidos no mapa original. O resultado final foi positivo mas houve desvios devido a fazer confusão entre a setinha da nossa posição com a setinha do cursor do GPS; falta de prática da minha parte com este GPS. Habitualmente crio os meus trilhos no GPS, logando o percurso feito em vez de carregar trilhos de terceiros. Como disse, chegamos ao destino, mas houve fossos a transpor, com direito a passar por cima e por baixo de penedos e abrir caminho por sítios onde provavelmente nunca ninguém passou. Oportunamente, partilharei o caminho que trilhamos e que ficou logado no meu GPS.

4) Sabíamos que a fase final do trilho iria dar trabalho, mas não tínhamos a certeza se iria implicar escalada livre. Eu tenho um problema com alturas apesar de não ter problemas com altitudes; isto é, voo em máquinas que nem têm motor, mas subir escarpas ou mastros de antenas… cof cof… Lá avancei lentamente mas confiante, atrás do “cabreiro” Gomes que me ia motivando a não ficar pela cota -25 metros e ir até lá acima. A mochila não me pesava muito nas costas apesar da sua dezena de quilos, mas a alteração de centro de massa que ela provocava em mim, dificultava e punha em risco a minha escalada: o Gomes (ah, grande Gomes!) ofereceu-se para ser o meu sherpa na “recta” final da ascensão. Muito obrigado Gomes! Se não fosses tu, teria activado o cume desde o penúltimo degrau. A descida foi a bate-cu, com calma, lenta e segura, qual elefante a saltar de nenúfar em nenúfar.

5) É boa prática levar consigo um repelente de insectos. Mas os que encontramos lá em cima, riam-se para nós num tom jocoso de como quem diz “ólhamestes! Vêm práqui com sprayzinhos pra mosquitos de cidade, ahahahahaaaa”. De facto o melhor dos repelentes não tinha qualquer efeito sobre a núvem de “mosquitos” que pairava precisamente sobre o cume de Penameda. Fiz o meu vídeo “360º” à pressa para ir um pouco mais além montar a antena, mas a núvem de “mosquitos” lá foi pastar para outro lugar: porreiro, já posso armar a barraca aqui mesmo. No processo de montagem, a nuvem voltou a visitar-me mais duas ou três vezes… Comecei a operar, a cobertura GSM facilitou o autospot no sotawatch e rapidamente fiz os 4 QSOs que me validariam o SOTA. Ao querer despachar-me dali para fora, acabei por perceber que afinal os “mosquitos” eram apenas formigas aladas, curiosas e inofensivas, mas chatas. Tão chatas que era preciso varrê-las de cima do meu logbook para poder escrever sem espalmar algumas (ver foto). Fiquei mais um pouco para mais uns QSOs na companhia delas.

6) IARU Region 1 Field Day SSB. O nome diz tudo! Este evento dificultou o SOTA ao colega CT1HIX e eventualmente outros operadores QRP. Mas com paciência e astúcia os resultados desejados foram superados. 😉

Caro leitor, queira desculpar o lençol deste episódio. Se leu até aqui, parabéns! Espero que sirva de lição tal como a mim. 🙂

73 de CT7AFR.

O que pode correr mal num SOTA (VI)

Activando a Serra do Formigoso (CT/MN-038)
Activando a Serra do Formigoso (CT/MN-038)

Um gajo chama “CQ SOTA CQ SOTA CQ SOTA CT7AFR/P activating summit reference CT/MN-0nn…” E chama, e chama e continua a chamar. Tudo porque não tem cobertura telemóvel para se auto-spotar no sotawatch e porque ninguém atende os repetidores (esta parte assusta-me, a sério).

Dizia eu, um gajo chama, chama e chama até que lá responde o primeiro que muito amavelmente se prontifica a nos anunciar no cluster o que já é muito bom. Logo vem o segundo que sorte das sortes é caçador e logo nos reporta no sotawatch!

E depois vem o terceiro: um colega português, um indicativo novo para mim; é uma honra para mim juntar mais um “cromo” à colecção. Mas quem poderia adivinhar que o “cromo” além de não saber o que é SOTA (mas a isto ninguém é obrigado), não entendeu nenhuma das dicas que lhe ia passando subliminarmente a cada “over” para me deixar continuar a minha activação por todas as razões do mundo. Sei lá! A temperatura já ia nos 38ºC (eram cerca de 1030LT), estava a operar em portátil, longe do QTH, num ambiente moderadamente agressivo mas sobretudo temperamental…

Enfim, por muito que tentasse, que me despedisse com uns “OK colega, obrigado pelo contacto, 73 e até à próxima”, vinha sempre mais uma pergunta: Está com amplificador ou é só propagação? Que rádio está a usar? Que antena está a usar? Onde fica esse sítio ao certo? Ah e tal, blah blah blah, já estive aí perto com a família no dia tal e tal. Há aí um restaurante, blah blah blah…”
Bom, quem estava no pile-up desistiu, quem viu no cluster e foi espreitar a frequência deve ter pensado: “olha um QSO normalíssimo, o gajo do SOTA foi comido ou está noutra frequência”.

A dada altura, já depois de ter explicado o que é o SOTA, que estava “com pressa”, que queria facturar tantos contactos quanto possíveis sem estar com mordomias, que queria dar oportunidade a outros caçadores etc., pois o objectivo SOTA para mim (além do passeio) é ver onde chego com os meus meios e optimizar estes, seja rodando o dipolo (apesar de ser V-invertido), seja abrindo ou fechando um pouco as pernas do mesmo. Dizia eu, já depois da lição de SOTA e perante tanta falta de sensibilidade pela parte do OM, confesso cheguei a ponderar deixar “cair a linha” e ir chamar para outro lado…

Resumindo, foram 10 minutos stressantes. Prefiro ter um palhaço a assobiar na frequência (para isto tenho filtros: um no rádio outro na cabeça) do que apanhar um bilhete destes… 😀

Bom, gosto de rádio e de partilhar com todos tudo o que sei, mas caramba, naquele dia, já me bastava suportar o calor. 🙂

73 de CT7AFR, Emmanuel.