´Reparação na Alemanha do planador DG-200 "CF"

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´Reparação na Alemanha do planador DG-200 "CF"

Mensagempor jprosa em 05 Out 2008, 16:37

Fotos em: http://www.vooavela.net/fotos/Viagem-%E ... 008?page=1

1.Constatação e decisão

Como é do vosso conhecimento, no passado mês de Julho, durante o campeonato de Espanha de voo à vela, o meu planador, um DG-200, soltou-se da barra de reboque quando o transportava para a pista e danificou os ailerons.

Como habitualmente, procurei a solução mais simples, encomendando na Alemanha (LTB Frank & Waldenberger) novos ailerons e em Espanha a sua fixação e afinação.

Quando me desloquei a Espanha no início de Agosto, na esperança de tudo estar pronto e poder voar de novo com o meu brinquedo, fiquei mais murcho que um balão vazio ao verificar algumas diferenças, entre as quais uma dobradiça do aileron com o buraco fora do sítio e um aileron mais comprido que outro, para além de me parecerem menos espessos que os originais.

Em Espanha mostraram alguma reticência em modificar um aileron, por ser uma peça nova e certificada pela fábrica (JAR Form One) e eu por minha vez estava fulo pelas diferenças constatadas.

Para mim só restava uma solução: telefonei à Frank & Waldenberger informando do sucedido e da minha disposição em levar o planador até à Alemanha e só o trazer com tudo resolvido.

A resposta foi positiva, como é óbvio, reforçada neste caso pelo tradicional rigor germânico.

2.A viagem

A viagem correu sem atribulações, o planador estava em Ocaña, daí até Phillipsburg são cerca de 1900 km indo pelo caminho do Mediterrâneo. Por aí é sempre em autoestrada, vai-se direito a Valência, depois segue-se até à fronteira com a França passando por Castellón (onde estavam umas nuvens fantásticas e lenticulares de fazer inveja ao Norberto), Barcelona e Girona.

Já em França o tradicional caminho por Bezier, Montpellier, tendo pernoitado em Nimes. De seguida a autoestrada de Lyon, passando ao lados dos Rhones-Alpes, região do Jura, Avignon, Alsácia e direito à Alemanha.

Aí foi seguir a autoestrada em direcção a Frankfurt e sair na direcção de Bruchsal.

Faz-se muito bem em dois dias, sem grande pressão ou cansaço e podendo até tirar proveito do preço dos combustíveis em Espanha e em particular na Catalunha. Cuidado em França, assalto declarado, € 0,20 de diferença entre a autoestrada e a bomba de supermercado. Aproveitava quando pernoitava. O carro foi “irreprochable” (não sei porquê, mas esta lembra-me uma dos gatos fedorentos
).

3.A reparação

Segunda, 15/9, pela manhã, lá estava eu à porta da Frank e Wandenberger. Depois de conhecer a equipa, o Dieter Frank, que foi durante 25 anos o engenheiro da DG responsável pela produção (o meu planador tem a sua assinatura nas asas), o Gustav Waldenberger, seu sócio e homem de confiança, bem como o restante staff, foi constatado pelo Dieter Frank a diferença do posicionamento do buraco numa das dobradiças.

Primeiro passo, verificar o que correu mal na produção. O aileron foi encaixado nos moldes e enfiados os eixos que dão forma aos buracos das dobradiças. Verificou-se que aquele que está desalinhado não permitia a introdução total do eixo. Conclusão: foi erro da produção ao não ter enfiado totalmente esse eixo, originando o desalinhamento.

A solução não foi complicada: foi extraído o casquilho, alargado o buraco com um aparelho que me lembrava a broca do dentista, colocado na asa para verificar a sua posição, aplicado novo casquilho, o qual foi fixado com uma massa de fibra e resina epoxy, tudo seguro com talas de médico e fitas. Por incrível que pareça, o acerto para a posição definitiva foi feito
a olho!

Verifiquei haver uma diferença de 1 mm de espessura entra ambos os ailerons, que me indicaram estar dentro das tolerâncias, o que me foi confirmado pela DG, que indicou que mesmo em 2 mm não há problema.

Os ailerons são por sua vez menos espessos que os originais, dado que a camada de gelcoat actualmente empregue é mais fina para ser mais flexível e durável. Para compensar e permitir a boa forma do perfil, recorre-se à selagem em mylar.

A partir daqui foi a altura de ficar verdadeiramente boquiaberto e constatar que estava entre verdadeiros profissionais, experimentados e competentes. Para afinar os ailerons, foram os mesmos montados nas asas, bem como os flaps e por sua vez todo o planador. As afinações eram feitas apenas nos hoteliers situados na ligação aos ailerons, uma vez que os que se situam na fuselagem estavam com a afinação correcta, dado não haver aí peças novas. Para chegar à afinação final foram montadas e desmontadas as asas 3 vezes, sendo que toda a operação não demorou mais que uma hora. Todas as porcas frenadas aplicadas eram novas.

Para além de alguns trabalhos adicionais que abaixo indico, seguiu-se a obtenção de medições e constatação de que tudo se encontrava conforme indicações do manual, selagem com mylar (feita de forma exemplar), peso e centragem, terminando com a inspecção anual.

4.Trabalhos adicionais

Aproveitei a minha presença para resolver alguns problemas do planador, parte dos quais foram detectados pelo Gustav Waldenberger.

Foram substituídos 4 casquilhos das dobradiças dos flaps (que se encontravam com folgas), 3 esferas de hotelier que já se encontravam ovalizadas e aplicado o sistema de retenção da alavanca de trem dos DG. Este último, para confirmar a grande perícia do Gustav Waldenberger, foi também aplicado “ a olho”, salvo uma anilha em fibra que fabricou para substituir a mola da ponta da alavanca, a qual permite agora evitar que a mesma gire involuntariamente.

5.Compensação

Fora de série a atitude dos nossos amigos alemães: sabendo que o seguro não iria pagar a minha viagem, uma vez que esta se devia a erro no fabrico, procuraram compensar-me, não me cobrando o que foi adicional. O que significa que o que foi efectuado compensou claramente a despesa.

Sentimo-nos gratificados quando lidamos com profissionais que, para além de partilharem a nossa paixão, agem da forma como estes agiram.

6.O voo de teste

O voo de teste foi efectuado em Landau, onde a particularidade foi o reboque ter sido efectuado por um ULM.

Tratou-se dum FK9, com o motor Rotax 912. A pista é de erva e a altitude de 98 m. Tem apenas 600 m de comprido (já a largura é enorme) e pouco mais à frente existem uns geradores eólicos. Pensei que íamos passar entre eles durante o reboque.

A minha surpresa foi total. Descolámos em poucos metros (dado que havia algum vento de frente), mas depois subíamos de forma estranha para o que eu estou habituado, quase na vertical como se fossemos um paramotor e com 110 km/h de velocidade de reboque.

O tempo do reboque, desde a descolagem aos 1000 m onde me larguei e posterior regresso, foi de 8 minutos. Como o consumo do FK9 é de 20 litros/hora, o reboque custou € 20,00 !!!!!!

Porque não tentar por cá o mesmo? A lei não permite actividade comercial por ULM? E se for feita por clube, logo sem fins lucrativos?

Também usam reboque por guincho, em que o custo até aos 400 m fica em € 5,00.

Voltando ao voo, o planador estava impecável. Experimentei entre os 80 e os 150, com várias posições de flap. Sempre equilibrado, sensível ao aproximar de ascendentes e mudando de inclinação entre direita e esquerda com muita agilidade.

O aeroclube de Landau não foge à regra doutros que conheço. O importante não é ter apenas uma pista, hangar e reboque, mas também as infra-estruturas que lhe permita ser um local de encontro e convívio entre pilotos e famílias, bem como local aprazível para que ninguém se aborreça enquanto gozamos com os nossos brinquedos.

Para além do espaço arborizado, existe um edifício social com sala de estar, cozinha e bar, utilizável pelos sócios. Cá fora uma excelente esplanada e também parque infantil.

Umas excelentes Paulaner Weissbear serviram para brindar não só o sucesso da reparação mas também a nossa amizade. Prost!

7.Visitas adicionais


Bruchsal fica a 10 km de Phillipsburg. É lá que se situa a DG. Quando fui comprar as peças necessárias, aproveitei para fazer uma visita à fábrica, na qual fui acompanhado pelo Sr. Strobl.

Foi uma perfeita lição da arte de construir um planador, sendo que estavam em fabrico o DG 800, o DG 1000 e o LS 10. Diferentes tipos de molde, técnicas de fabrico, união entre peças, fixação de estruturas e comandos, canopies, segurança da célula, etc, tudo foi alvo de explicação detalhada e mostradas todas as secções da fábrica.

Excelente simpatia e arte de receber, com um sentimento de satisfação em estarmos ligados a um grande fabricante que ainda agora certificou a minha máquina para um limite de 12000 horas de vida útil.

Não pude deixar de visitar o museu de tecnologias de Sinschein, o qual tem uma linda colecção de máquinas, alguns planadores e vários aviões que podemos visitar, entre os quais o Concorde e o Tupolev 144.

Como destino turístico, as cidades de Heidelberg e Speyer, banhadas pelo Reno, de grande beleza natural e arquitectónica.

8.Epílogo

Para além de ter resolvido o problema do meu planador e ter ficado com outros problemas igualmente resolvidos, sinto que valeu igualmente a pena a viagem pelo que vi de novo, pelo que aprendi e pelo que desfrutei.

Para além do mais importante, as novas amizades adquiridas.

Tschüss

João Rosa

Fotos em: http://www.vooavela.net/fotos/Viagem-%E ... 008?page=1
última vez editado por jprosa s 06 Out 2008, 08:49, editado 1 vez no total
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Re: ´Reparação na Alemanha do planador DG-200 "CF"

Mensagempor Emmanuel em 06 Out 2008, 08:13

Fabuloso!!!! :shock:
Muito obrigado João por este magnífico "trip report".
Adorei a forma como descreveu os passos que deu e sobretudo fiquei contente por ter ficado bem servido e com qualidade, lá na Alemanha. Um país que me encanta cada vez mais.
Então quando falou de Heidelberg, senti uma nostalgia cá dentro... :)

Quanto ao museu tecnológico de Sinsheim... Deixo aqui uma fotografia que tirei em 2005, aquando da volta à Europa que dei com a Maria:

Imagem

Cumprimentos a todos,
LOMBA, Emmanuel.
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